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Muito mais do que apenas “o filho do dono” na empresa dos pais
Entrada de herdeiros no negócio pode ocorrer sem conflitos, tão comuns entre as diferentes gerações.
01/01/1970 00:00:00
A rotina de trabalho, cheia de cobranças, reuniões e cumprimento de metas pode ser desgastante. Se a empresa for familiar, com pais e filhos trabalhando juntos, as tensões do ambiente podem ser ainda maiores. Para evitar que i relacionamento seja fonte de conflitos, é importante saber tirar proveito desse convívio e garantir a longevidade da companhia. Francisco Deusmar de Queirós, fundador da rede de farmácias Pague Menos, acredita que a participação dos quatro filhos contribuiu para o crescimento da empresa. “Não é por ser uma empresa familiar que não pode ser profissional. Isso só acontece quando o pai não investe nos filhos”, diz, acrescentando que seus filhos possuem especializações e estudaram no exterior. A mais velha, Rosilandia, é responsável pela controladoria. A expansão dos negócios está nas mãos de Carlos Henrique e as áreas de marketing e compras são comandadas por Patriciana. Por último, o caçula Mário Henrique é o diretor de finanças e de relações com investidores. Para as demais funções chaves da empresa, Deusmar trouxe profissionais com experiências em outras empresas. Deusmar conta que desde criança os filhos ajudaram no dia a dia da rede de farmácias. Com a experiência acumulada, acreditam que entendem a empresa como ninguém e ajudam a desenvolver novos processos e estratégias. “Eu estou muito satisfeito com o que eles me dão de volta no trabalho. Eles não são apenas filhos do dono”, comemora. Quem também viu o filho seguir seu caminho e assumir os negócios foi Paulino Botelho de Abreu Sampaio, fundador e sócio diretor da corretora Coinvalores. Seu filho, Paulo Botelho, é o gestor responsável pelo home broker. O conselheiro da Dasein Executive Search, Paulo Ângelo, também não vê razões de preocupação nos casos em que os filhos vão trabalhar junto aos pais, desde que feita de forma profissional. “É natural que um pai, ao fundar uma empresa, tenha o desejo de que os filhos ou filhas o sucedam”, disse.
O importante, nesse caso, é saber se esse herdeiro tem aptidão para a função e se é o que ele de fato deseja. Antes disso, é necessário investir na sua formação profissional para que a liderança não seja questionada. Nessa relação entre pais e filhos, conta Ângelo, é normal que os mais jovens tragam novas ideias e metodologias para serem adotadas na empresa. Isso, embora esperado, é fonte de desentendimentos em alguns casos. “Alguns fundadores não são tão abertos a novidades e isso precisa ser trabalhado”, recomenda. O consultor lembra ainda em que há casos em que os filhos não necessariamente seguem na empresa da família. O exemplo mais conhecido é o do embaixador e fundador do Unibanco Walter Moreira Salles. Morto em 2001, teve quatro filhos. Apenas um, Pedro Moreira Salles — atual presidente do Conselho de Administração do Itaú Unibanco —, foi trabalhar no banco. Dois, Walter Moreira Salles Junior e Pedro Moreira Salles, são cineastas e Fernando Roberto Moreira Salles seguiu a carreira editorial. Para evitar que o filho sem aptidão vá parar na empresa só por conta do pai fundador, o sócio da Ernst & Young Terco para mercados estratégicos, André Ferreira, conta que é importante discutir se o herdeiro tem um perfil mais executivo, de conselheiro ou se será apenas um acionista. Se a opção for a primeira, ele deve ser preparado para o cargo. “É importante capacitar as novas gerações para dar sequência aos negócios”, diz. Pensando nisso, a consultoria possui há cerca de três anos um treinamento para qualificar os filhos de empresários. A cada ano, aproximadamente 50 jovens passam por cursos de gestão em escolas de negócios no exterior. Esse programa de treinamento é uma das etapas, segundo Ferreira, de um processo mais amplo, em que Ernst & Young desenvolve um projeto de assessoramento a famílias empreendedoras. “Conversamos sobre, por exemplo, como motivar novos negócios visando o crescimento da família.”
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