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Dólar volta a superar R$ 5,00 com IPCA-15 e aposta em Fed mais duro
O real apresentou o segundo pior desempenho entre divisas emergentes e de países exportadores de commodities mais relevantes
01/01/1970 00:00:00
O dólar à vista subiu com força no mercado doméstico e voltou a fechar acima de R$ 5,00 pela primeira vez desde 8 de maio. O dia foi marcado por uma onda de fortalecimento global da moeda americana. Ao impasse em torno do aumento do teto da dívida dos EUA, que precisa ter um desenlace até 1º de junho para afastar o risco de calote, somou-se hoje o aumento das chances de nova alta de juros pelo Federal Reserve.
O real apresentou o segundo pior desempenho entre divisas emergentes e de países exportadores de commodities mais relevantes, atrás apenas do rand sul-africano, com perdas superiores a 2%. Analistas atribuem a fraca performance relativa da moeda brasileira ao aumento das apostas de corte da Selic já em agosto, na esteira da desaceleração mais forte que a esperada do IPCA-15 e de declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, à tarde.
A combinação de possibilidade de postura dura do BC americano com cortes da Selic reduz o diferencial de juros interno e externo – o que tende a diminuir a atratividade das operações ‘carry trade’. Operadores afirmam que fundos locais correram para reverter operações vendidas em dólar, na tentativa de limitar prejuízos, o que contribuiu para turbinar os ganhos da moeda americana por aqui.
Com máxima a R$ 5,0443 (+1,82%), justamente em meio à fala de Campos Neto, o dólar à vista encerrou a sessão desta quinta-feira, 25, em alta de 1,65%, cotado a R$ 5,0355 – maior valor de fechamento desde 2 de maio (R$ 5,0467). Após a arrancada de hoje, a divisa passou a acumular avanço de 0,79% na semana e de 0,96% no mês. No ano, a moeda ainda tem desvalorização de 4,63%. Principal termômetro do apetite por negócios, o dólar futuro para junho teve giro forte, acima de US$ 16 bilhões.
O IPCA-15 desacelerou de 0,57% em abril para 0,51% em maio, bem abaixo da mediana da pesquisa do Projeções Broadcast (+0,65%) e perto do piso das estimativas (0,48%). Economistas ressaltaram a desaceleração de núcleos e de serviços. À tarde, Campos Neto disse que o IPCA-15 foi de fato positivo, com “núcleos melhores” e comentou a possibilidade de que a queda da inflação de alimentos no atacado se espraie para o varejo “daqui a pouco”.
O presidente do BC, como de praxe, desconversou quando questionado a respeito de eventual início de corte da taxa Selic, ao dizer que é “um voto em 9”, em referência à composição do Comitê de Política Monetária (Copom). No mercado de juros futuros, as apostas em corte da taxa Selic em agosto se tornaram majoritárias.
“A leitura do mercado sobre o IPCA-15 é que abre a porta para que o Banco Central assuma um tom menos duro e possa iniciar o processo de queda dos juros em algum momento mais à frente. E isso pode diminuir o ‘carry da moeda”, afirma o gestor Bruno Martins, sócio da Armor Capital, ao comentar o desempenho ruim do real em relação a seus pares.
Segundo Martins, pode estar sendo desfeito hoje uma operação bastante “popular entre gestores de multimercados”, que combina venda de índice futuro de Ibovespa e de dólar futuro. Isso ajudaria a explicar o movimento simultâneo de alta expressiva da Bolsa e forte depreciação do real.
O gestor da Armor ressalta que a “posição técnica” do mercado “não era boa”, dado que os fundos locais haviam aumentado muito nas últimas semanas as posições “vendidas” em dólar, que atingiram US$ 6,6 bilhões ontem. “A performance ruim do real é por conta de uma soma de fatores, como inflação baixa e posição técnica ruim”, afirma Martins.
No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes – superou a linha dos 104 mil pontos, algo não visto desde meados de março. O euro foi pressionado pela queda de 0,3% do PIB da Alemanha no primeiro trimestre na margem, o que colocou a maior economia da Europa tecnicamente em recessão.
Nos EUA, o Departamento de Comércio informou pela manhã revisão do crescimento do PIB americano para 1,3% no primeiro trimestre (taxa anualizada). O resultado ficou acima da estimativa inicial, de 1,1%, embora tenha superado projeções de analistas (1,6%). O índice de preços de gastos de consumo (PCE) também foi revisado para cima. Monitoramento da CME mostra que as chances de uma alta de 25 pontos-base na reunião do Fed em junho passaram a ser majoritárias. Investidores já mostram menos convicção de que possa haver corte dos juros ainda neste ano.
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