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Recursos Humanos: os desafios de cuidar de pessoas que cuidam
Concentrar os esforços naquilo que é próprio do humano, como criar, se solidarizar, sentir compaixão e empatia, por exemplo, é uma necessidade atual considerando o futuro do trabalho
01/01/1970 00:00:00
Todo e qualquer colaborador pode cuidar das pessoas, independente da área na qual atue. O papel do RH (Recursos Humanos) é fornecer ferramentas certas e apoiar na capacitação para isso. E o papel da liderança é fazer com que toda essa engrenagem funcione, um ‘cuidando do outro’.
As frases acima podem parecer simples ou já lidas e vividas em várias situações, mas são, de fato, extremamente significativas, principalmente se estiverem atreladas à área da saúde.
Vivemos em um mundo em constante movimento e transformação. Transitamos rapidamente de uma geração para outra, por mudanças tecnológicas e para novas relações de trabalho. Sabemos que o futuro exigirá habilidades, que em boa parte não são aprendidas nas escolas e para as quais não somos efetivamente preparados, mas que serão diferenciais em um momento em que boa parte das atuais demandas serão supridas pela inteligência artificial.
Por isso, concentrar os esforços naquilo que é próprio do humano, como criar, se solidarizar, sentir compaixão e empatia, por exemplo, é uma necessidade atual considerando o futuro do trabalho. Além disso, é uma necessidade real que já conversa com aquilo que acreditamos. Só vamos cuidar de forma efetiva e tratar cada vida como única usando habilidades e competências que somente as pessoas podem replicar.
O cuidar na área da saúde
Na área da saúde, isso não é diferente. Ou melhor, é potencializado. Com pouco mais de um ano na liderança de gestão de pessoas de uma clínica de transição de cuidados, entendo a necessidade de estarmos abertos a aprender continuamente. A experiência com as primeiras contratações, os meses que passamos na fase pré-operacional, o desafio de integrar uma equipe nova e diversa e outras tantas situações nos confirmaram ainda mais a importância de investir no desenvolvimento das pessoas. Não somente na capacitação técnica, mas, especialmente, no indivíduo, fortalecendo habilidades existentes e aprimorando outras, de modo que cada um possa reconhecer seu potencial e usá-lo da melhor maneira.
Todos nós temos uma imensa responsabilidade na construção da cultura organizacional da empresa, que inicialmente é idealizada pelos fundadores e, se confirma na prática com a aderência e engajamento de todo o time. Para isso é necessário não só conhecer os valores idealizados, mas, sobretudo, entender se esses valores nos movem e são compatíveis com nossos propósitos. Quando não encontramos significado no que fazemos e não sabemos para que fazemos essa ausência de sentido nos desconecta e nos impede de cumprir qualquer missão. Por isso, torna-se primordial investir nas pessoas e colocá-las no centro do nosso cuidado.
Promover oportunidades para o desenvolvimento e ações que fortalecem o time estão entre nossas prioridades. Sabemos que segurança psicológica e sentimento de pertencimento são requisitos para manter os colaboradores motivados e recrutados a trabalhar por uma causa.
Acolher e ser acolhido
Nosso maior compromisso é acolher pacientes e suas famílias num momento de fragilidade, em virtude de algum evento grave que fazem com que eles cheguem na clínica precisando não só de cuidados clínicos, mas de amparo emocional, face ao momento de sofrimento.
Nossa equipe presta cuidados assistenciais para que os objetivos do plano terapêuticos sejam cumpridos, como em outras clínicas de transição de cuidados, mas sabem que nosso diferencial está na atenção e no acolhimento prestados à essas famílias. Por isso, nosso principal desafio é oferecer para esses colaboradores apoio e preparo para que se sintam aptos nessa tarefa.
A melhor forma de promover esse preparo é fomentando o fortalecimento da equipe através de um trabalho focado em despertar cada indivíduo para um processo de autoconhecimento, autorresponsabilidade e busca pelo bem-estar, de forma que possa contribuir com o time e o ambiente.
Real interesse nas pessoas
O que chama minha atenção nas pessoas é o interesse e a vontade de aprender. Como as enxergo no dia a dia? Sou cuidadosa e evito fazer qualquer julgamento. Coloco-me sempre numa cadeira de não saber e evito me influenciar pelas impressões alheias, especialmente quando são negativas.
Acredito que quando criamos rótulos e estereótipos, colocamos as pessoas num lugar que fala mais sobre nossas próprias crenças do que sobre a pessoa em si. Se alguém me causa algum incomodo, procuro entender o que essa pessoa está despertando em mim. Mas me policio para não colocar ninguém num patamar de obstáculo ou problema. Entendo que as pessoas são uma oportunidade de ser e me possibilitam crescer no meu encontro com elas.
Duplo desafio: cuidar e lidar com pessoas
Cuidar e lidar com pessoas é um duplo desafio. Cuidar é uma arte e nem todos tem a mesma vocação para essa tarefa. Exige técnica, quando falamos em cuidados assistenciais e, acima de tudo, aptidão de se doar e servir. Muitas vezes, não se trata apenas de ofertar o que gostaríamos que fizessem conosco e, sim oferecer ao outro o cuidado que ele espera e deseja receber, o que requer disposição, tolerância, paciência e profundo respeito para legitimá-lo.
Soma-se a isso a necessidade de lidar com pessoas, ações das mais complexas considerando que as relações nem sempre ocorrem entre afins ou pautadas por interesses comuns.
Partindo desse princípio, entendemos ser primordial oferecer aprimoramento a todos que estão diante desse desafio, seja cuidando diretamente ou cuidando de quem cuida. Acreditamos na necessidade do desenvolvimento contínuo, no fortalecimento dos seres humanos para lidarem com os desafios, trabalhando com inteligência emocional para a construção de um ambiente salutar.
Acreditamos que gostar de si e de pessoas são requisitos básicos para prestar o cuidado ao outro. Se não praticarmos o autocuidado, dificilmente poderemos ser assertivos e consistentes na nossa prática. Também considero importante ser gentil e se conectar com o outro quando cuidamos. Prestar um cuidado mecânico, protocolar e apático não cria conexão, que é algo que, para mim, está na essência do cuidado.
Como encantar pessoas para que possam transmitir esse sentimento aos outros?
Percebemos que a arte de encantar não está necessariamente ligada a grandes feitos, mas sim a pequenos detalhes. Está na constância, na coerência e na consistência das ações. Não pode ser apenas um discurso.
Celebrar datas importantes, lembrar individualmente do aniversário de cada colaborador, estar sempre de portas abertas para a escuta ativa e oferecer pequenos mimos ao longo do ano geram muito valor na medida que criam um senso de pertencimento e identidade social, fortalecendo os vínculos e a conexão entre as pessoas e a própria organização, que passa a significar algo maior do que apenas um lugar para se trabalhar.
Quando aumentamos o nível de satisfação das pessoas, impactamos positivamente o bem-estar coletivo, diminuímos o absenteísmo e a rotatividade dos colaboradores, que passam a ser portadores e guardiões dos valores organizacionais.
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